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quinta-feira, agosto 18, 2011

O trabalho sob a ótica de Christophe Dejours: uma pequena crítica Anderson Cristiano da Costa

Christophe Dejours, no artigo “Entre o desespero e a esperança: como reencantar o trabalho?” — publicado na edição número 139 da revista CULT —, demonstra como o trabalho, apesar de ser fonte de inúmeros problemas físicos e psicológicos, pode contribuir para a saúde mental do trabalhador. Nesse artigo o autor trabalha com as questões: formação da identidade e saúde mental do trabalhador.
Primeiramente ele menciona que o problema da saúde mental no trabalho tem relação com a evolução da organização do trabalho e, particularmente, com a introdução de novas estratégias, como é o caso, citando apenas uma delas, da avaliação individualizada de desempenho. Essa evolução aumenta a pressão produtiva por um lado e, por outro, acaba provocando isolamento e solidão.
O trabalhador se depara constantemente, durante seu ato de trabalhar, com o real, que, nada mais é que a resistência da matéria, dos utensílios ou das máquinas utilizadas no trabalho. Dito de outra forma: o real são as dificuldades encontradas durante a atividade profissional. Para um sujeito trabalhar ele precisa saber lidar com o real e, nesse caso, a inteligência é fundamental; ela é a capacidade de reconhecer o real, assumir a impotência perante ele, perceber que perdeu o controle da situação. Mas o trabalhador, sendo capaz de resistir ao fracasso, ou seja, sendo capaz de sofrer, pode encontrar a solução para os problemas provocados pelo real. Assim, por meio da inteligência, ele acaba resolvendo os problemas, e sua inteligência se desenvolve. Não obstante, os problemas enfrentados pelo trabalhador no seu trabalho provocam sofrimento, mau humor, sonhos, e vários outros tipos de reações; tudo isso é invisível, e parte essencial do trabalho.
Todo trabalho é realizado numa interseção entre o trabalho individual e o trabalho coletivo; nessa interseção está o sofrimento. As pessoas, segundo o autor, assumem riscos e sofrem porque esperam uma retribuição. Fazem um trabalho individualmente num plano coletivo esperando serem recompensadas. Essa recompensa não é somente uma recompensa material, mas também uma recompensa simbólica. Trabalhando, o trabalhador espera o reconhecimento: reconhecimento da utilidade e qualidade de seu trabalho. Assim, o reconhecimento do trabalho é o que permite a transformação do sofrimento em prazer. Mas isso não é um fato que ocorre de uma hora para outra: é necessário que o trabalhador passe pelo trabalho, pelo desafio do real, pelo sofrimento e pela descoberta de soluções que resolvam os problemas encontrados durante sua atividade. É um longo percurso até chegar ao prazer.
Segundo Dejours, o reconhecimento da qualidade do trabalho pelos outros acaba proporcionando a destinação do reconhecimento do registro do fazer para o registro do ser, ou seja: eu sou mais esperto, mais hábil. Essa passagem do registo do fazer para o ser acaba fortalecendo a identidade do trabalhador. O reconhecimento da qualidade do trabalho também proporciona ao trabalhador a idéia de pertencimento a um grupo, por exemplo: sou um psicólogo como os outros psicólogos. Assim, o reconhecimento confere ao trabalhador, em troca do sofrimento, um pertencimento que faz desaparecer a solidão.
O autor diz que a identidade é o alicerce da saúde mental, então, o trabalho, por meio dinâmica do reconhecimento, contribui para o desenvolvimento da identidade e, consequentemente, para a manutenção da saúde mental. Muitos desempregados, por não contribuírem de alguma forma no mundo do trabalho, ficam doentes, pois não têm o reconhecimento.
Dejours menciona que atualmente algumas organizações não se preocupam com a questão do reconhecimento, e diz que é necessário, além de agir para sanar o problema do desemprego, mudar os métodos de organização do trabalho.
Uma apreciação crítica para encerrar.
O autor apresenta seus argumentos de forma bastante consistente, contudo, diante do cenário econômico mundial contemporâneo, o trabalho é um dispositivo que auxilia na manutenção de uma economia caótica e irresponsável. O trabalho é, obviamente, necessário à sobrevivência, não obstante, da forma como está sendo utilizado pelo sistema econômico atual, funciona como um instrumento alienante, que amarra o trabalhador a uma idéia de progresso que, se for observada com atenção, é absurda. A atual cultura do capital financeiro, os problemas ambientais, os apelos imperativos ao consumo desenfreado; tudo isso deve ser levado em consideração quando se pensa em trabalho. O trabalho é necessário à sobrevivência sim, mas não deve ser usado para a manutenção de um pseudo-progresso. Sendo assim, pensar em reconhecimento (como proposto por Dejours) sem levar em consideração o que realmente significa trabalhar atualmente, bem... é só parte da solução para o grande problema.
Mudar a forma de organização do trabalho não seria suficiente. Seria necessário também agir para mudar todo o sistema; após uma grande mudança no atual sistema econômico, e uma mudança na forma de pensar contemporânea, aí sim talvez fosse possível resolver os problemas relacionados ao trabalho. Utopia? Talvez, mas se não surgirem novas formas de pensamento o mundo vai sofrer as conseqüências a logo prazo.
Voltando ao autor; os argumentos de Dejours são magistrais, e sua idéia de reconhecimento parece ser uma forma de, pelo menos, amenizar um pouco o caos existente hoje no mundo do trabalho.

Referências:
DEJOURS, Christophe. Entre o desespero e a esperança: como reencantar o trabalho? CULT, São Paulo, n. 139, p. 49-53, set. 2009.

terça-feira, agosto 16, 2011

Série Imagem e Reputação: Telemarketing



angry-client-3por Liz Bittar
Os operadores de telemarketing são provavelmente a primeira “voz” que irá falar em nome da empresa. O site na internet pode ter um forte apelo visual, ter efeitos, ser moderno, arrojado, atrativo. Pode oferecer produtos de qualidade a preços convidativos. Pode conter a força da marca e ser o canal de comunicação com milhares de pessoas, 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Mas o operador de telemarketing é quem primeiro dá “voz” à empresa. É o primeiro contato humano entre empresa e cliente. É o ponto inicial na construção do relacionamento com o consumidor.
O momento em que o cliente decide telefonar para a empresa, após visitar o site, deve ser considerado como um momento mágico! É a culminação dos esforços de propaganda e marketing via internet. É o momento no qual a empresa começa a colher o que plantou em  investimentos  tecnológicos, planejamentos e estratégias.  É  a  hora  da  verdade.
O operador de telemarketing precisa ter uma macrovisão do negócio, compreender sua importância estratégica, e entender com clareza de que forma seu comportamento e postura podem ajudar na obtenção de resultados para o negócio, e para si próprio.  Precisa ser treinado com técnicas e conhecimentos que não integram sua formação acadêmica (o profissional de telemarketing costuma ser jovem, com escolaridade média, ainda cursando escola ou faculdade).
Precisa ser equipado com as ferramentas necessárias não apenas para “vender” ou “anotar pedidos”. As equipes de linha de frente, que têm relacionamento direto com o cliente, precisam ser devidamente preparadas e compreender a abrangência de sua atuação. Elas não constróem apenas relacionamento com o cliente; elas CONSTRÓEM REPUTAÇÃO.
QUANTO VALE ISTO?
Todos os investimentos com tecnologias, formação e capacitação de equipes, treinamentos e reciclagem, são indubitavelmente menores do que os investimentos em recuperação de imagem!
Portanto, se você estiver pensando em montar uma operação de telemarketing, por menor que seja, não fique restrito à aquisição de equipamentos e softwares; o seu diferencial competitivo não está aí.  O que vai fazer a diferença, mesmo, são as pessoas.
Impossível pensar em eficácia na implementação de qualquer operação sem o devido planejamento e capacitação criteriosa das equipes de linha de frente. E nunca é demais ressaltar a importância estratégica da gestão de pessoas para o sucesso de qualquer ação que envolva relacionamento interpessoal.
Uma operação de telemarketing ativo, receptivo ou híbrido vai portanto, muito além da mera operacionalização de máquinas e sistemas. A preocupação maior deve ser com a CONSTRUÇÃO DA IMAGEM da sua empresa, através da formação de equipes eficazes que trabalhem proativamente em prol de sua reputação, com discurso e atitudes coerentes e alinhados com a Visão, a Missão e os Valores da empresa.
QUAL O ESCOPO ESTRATÉGICO  DA OPERAÇÃO DE TELEMARKETING?
  • Atuar eficazmente na construção de uma imagem corporativa que reflita os valores éticos da sua marca.
  • Trabalhar em sintonia com a capacidade logística para garantir prazos e entregas
  • Ser um centro de apoio efetivo da administração do negócio
  • Fornecer dados estatísticos que sejam de fácil acesso, e efetivamente úteis para a definição de políticas e estratégias.
  • Reverter os altos índices de turnover característicos do setor, mantendo equipes motivadas, que forneçam apoio  às metas de crescimento sustentado e expansão da empresa.

OS DEZ PASSOS DO TELEMARKETING:

1 – CONSCIENTIZE
Vou começar convidando você a ler o artigo: “Imagem e Reputação: O Que É Que Eu Ganho Com Isso ?” e fazer uma reflexão sobre como trabalhar este tema com sua equipe. Você pode também ouvir o áudio AQUI ou fazer o download AQUI.
2 – INFORME PARA ALINHAR E INTEGRAR, NÃO APENAS PARA ORIENTAR
Esqueça o scriptzinho que todo operador de telemarketing tem – pelo menos por agora. Se bem que ele seja importante (não se esqueça de “estar omitindo” todos os gerundismos, por favor), antes de ensaiar o script você tem uma missão mais importante: ALINHAR e INTEGRAR a equipe.
Para estar integrada à sua empresa, é importante que a equipe de linha de frente tenha uma macrovisão do negócio (particularidades do seu negócio, indústria, mercado, produtos, marcas, concorrentes).
Não deixe de falar sobre a história da empresa; os desafios que enfrentou, os que tem ainda por vencer. Conhecer a empresa é o primeiro passo para se sentir parte dela.
3 – DÊ ENFOQUE ESPECIAL À LINGUAGEM E AO TRATO COM OS DEMAIS
Mesmo que você esteja contratando uma estagiária júnior para atender o telefone na sua ausência, não deve se esquecer da importância de um atendimento telefônico profissional, cortês, em bom português. Por isso, os esforços de treinamento devem focar o emprego de linguagem correta, sem erros de português, tais como a utilização de gerundismos (vou estar transferindo, vou estar averigando, vamos estar enviando, etc).
O trato com os demais também é essencial, mas isto deve começar na própria empresa; você deve criar e fomentar um ambiente respeitoso,  cuidando para que também entre si o time observe regras de conduta. Mas uma vez, o texto “Imagem e Reputação: O Que É Que Eu Ganho Com Isso? ” pode te ajudar.
4. O QUE UM OPERADOR DE TELEMARKETING PRECISA SABER
Os treinamentos para operacional de telemarketing costumam ter enfoque em técnicas de atendimento, voz, postura, dicção, linguagem, uso correto dos equipamentos, etc. Mas você não deve deixar de fora dos seus treinamentos alguns conceitos básicos que todos os que lidam com clientes externos precisam saber. Treine o seu time para:
  • Ter uma macrovisão do negócio
  • Compreender com clareza de que forma comportamento e postura podem impactar na obtenção de resultados para o negócio e para si próprio
  • Compreender a abrangência da atuação de cada um na construção não apenas do relacionamento com o cliente, mas na construção da REPUTAÇÃO DA EMPRESA. (Sobre isso, leia o post IMAGEM E REPUTAÇÃO: TELEMARKETING).
5 – ESTABELEÇA METAS CLARAS PARA TRANSFORMAR “FUNCIONÁRIOS” EM “TIME”
Pense no seu time de futebol disputando um campeonato; todos vestindo a mesma camisa,  trabalhando unidos para a obtenção de um resultado comum. Para começar a trabalhar como um time, é preciso ter uma meta comum. Se quiser transformar “funcionários” em “time”, estabeleça primeiramente metas claras para o negócio, e envolva a todos.
6 – RECONHEÇA ESFORÇOS INDIVIDUAIS, E DO TIME
Você deve ter um Plano de Metas para o grupo, mas é claro que o desempenho individual também deve ser medido. Se a idéia é trabalhar como um time, é justo que o desempenho coletivo seja premiado, além do individual. Metas de desempenho individual podem ser um fator de stress, mais do que de motivação, para algumas pessoas; a possibilidade de recompensa por sucessos coletivos, além dos individuais, pode ajudar na coesão do grupo.
7 – DÊ FEEDBACK CONSTANTE
Através da prática do feedback você abre um canal de comunicação com sua equipe, não apenas para informar, mas sobretudo ouvir.
Forneça feedback positivo, elogie e incentive sempre que cabível. E transforme o feeback negativo em “feedback para melhoria”, criticando não a pessoa, mas a ação, e orientando sobre como agir no futuro.
8 – PRATIQUE FEEDBACK PARA MELHORIA, EM VEZ DE CRÍTICA DESTRUTIVA
A técnica para fornecer um feedback para melhoria é simples: Faça referência sempre ao resultado negativo da ação, e nunca à pessoa e jamais - jamais - forneça feedback para melhoria diante de outras pessoas. Faça isso sempre em privado, mesmo que você deva comunicar ao grupo, posteriormente (por exemplo, para ressaltar um procedimento esperado, ou mesmo criar um novo procedimento que todos devam seguir).
Vou dar um exemplo prático:
O FATO: Image
  • Cliente liga
  • Atendente não sabia a resposta
  • Deixou o cliente na linha para averiguar
O RESULTADO:
  • Demorou muito, o cliente desistiu e desligou
Para fornecer um feedback com vistas à melhoria do atendimento, comece sempre pelo RESULTADO, e nunca por “Você fez isso ou aquilo”. Afinal, você quer corrigir, ou acusar?
Vejamos, então, como dar o feedback:
  • COMECE PELO RESULTADO
O cliente desistiu de esperar por uma resposta, e acabou desligando
  • ANALISE O QUE OCASIONOU ESTE RESULTADO
A falta de informação à mão, para responder ao cliente imediatamente
  • ORIENTE SOBRE O QUE É POSSÍVEL FAZER PARA EVITAR ISTO NO FUTURO
Refazer o script; anotar o número do cliente e ligar de volta, com a resposta; fazer uma listagem de quem pode fornecer informações em cada setor da empresa; etc.
Desta forma, você estará orientando quanto a procedimentos futuros, ao mesmo tempo que conscientiza sobre procedimentos inadequados.
9 – RECOMPENSE ÊXITOS INDIVIDUAIS E DO GRUPO
A recompensa financeira é a mais indicada para o atingimento de metas de desempenho. Mas, para manter um clima agradável e motivador, outras formas de recompensa são através do planejamento de carreira (promoções) e do feedback constante (elogiar e incentivar).
10 – VALORIZE SEU MAIOR PATRIMÔNIO
O maior patrimônio da sua empresa são as pessoas que nela trabalham, e que têm o poder de fazer da empresa, um sucesso. São pessoas que criam a reputação de sua empresa; todas as pessoas, em todos os cargos que ocupam. Ao atender a ligação de um cliente, o atendente não é mais o João ou o José; ele é A EMPRESA. Por isso, treinamento e capacitação, aliados à gestão eficaz de pessoas, são a base para o êxito de qualquer operação de telemarketing ativo, receptivo ou híbrido.
por Liz Bittar
Conteúdo liberado, desde que mencionadas a autora e a fonte (www.lizbittar.com.br/blog)

domingo, agosto 07, 2011

Como dar feedback para profissionais da geração Y

Os jovens querem avaliação de desempenho constante. Saiba como conversar com essa turma

Na rede de fast-food McDonald’s, sete em cada dez dos 37 000 funcionários têm menos de 21 anos. É uma população de pessoas da Geração Y, aquela formada por profi ssionais nascidos após 1980. Luís Bueno, diretor de RH da empresa, orienta os líderes a conversar sempre com os jovens. Como em outras companhias, o McDonald’s está descobrindo que a Geração Y é uma consumidora voraz de feedback. “Essas pessoas querem saber o que fazer para crescer na carreira, por isso a avaliação é importante”, diz Luís. De acordo com a pesquisa Empresa dos Sonhos 2009, realizada pelo Grupo DMRH, consultoria de RH de São Paulo, 54% dos 26 000 jovens profi ssionais brasileiros exigem orientação constante. “Eles precisam se sentir seguros”, diz a consultora Sofi a Esteves, do Grupo DMRH. Um exemplo é o administrador paulistano Henrique Striker, de 25 anos, gerente de mercado da Telhanorte, rede de lojas de material de construção.

Formado em 2007, foi promovido de trainee ao posto atual em menos de um ano e atribui o crescimento à insistência em pedir feedback. “Saber como está o meu trabalho é tão importante quanto o resultado de um projeto”, diz Henrique. Para os gestores, um conselho: não esperem os momentos pré-estabelecidos pela empresa para falar sobre o desempenho dos jovens. “O feedback formal não é sufi ciente”, diz Rodrigo Guimarães, de 28 anos, gerente sênior da farmacêutica Quintiles. “Encaro essas situações como avaliação fi nal, quando não dá tempo de consertar erros”, afi rma.

Por serem menos cerimoniosos em relação aos mais velhos, os jovens veem o feedback como conversa informal. “Quero liberdade para conversar com meu chefe”, diz Jaqueline Ferreira, de 25 anos, gerente do McDonald’s. Na rede de lanchonetes, ela não só pode, como deve agir assim. “Recebemos pela intranet 30 mensagens por mês com críticas e sugestões”, diz Luís. A companhia também dá feedback por meio de SMS. Quando atingem grandes resultados, os funcionários recebem torpedos. Mas Lúcia Menezes, diretora de RH da Andrade Gutierrez, alerta que às vezes é preciso ser formal com essa turma. “Muitos não encaram a troca diária como feedback. É importante avisar o funcionário quando ele está passando por avaliação”, diz.

54% dos 26 000 jovens profissionais brasileiros querem ter orientação constante no trabalho
CLAREZA É FUNDAMENTALUma das atitudes que mais agrada a esse pessoal é a precisão das informações. O feedback ideal deve ser direto e bem embasado. “Até a crítica negativa pode ser bem recebida se o gestor provar seus pontos de vista”, diz Sofi a, do DMRH. E os chefes também precisam ouvir. Os da Andrade Gutierrez estão bem nesse quesito. A empresa entrevistou 260 funcionários e descobriu que 89% deles consideram que os gestores aceitam opiniões. “É um bom indicativo de que a atitude da liderança está mudando”, diz Lúcia.

TODOS NO MESMO TIME
A turma da Geração Y só obedece a pessoas que admira. Sofi a explica: “Eles seguem apenas chefes nos quais podem se espelhar.” Para conseguir respeito, um bom caminho é mostrar que gestor e subordinado fazem parte da mesma equipe. “Ao perceber que o esforço deles é fundamental para o crescimento da empresa, os jovens trabalham com mais entusiasmo e criatividade”, diz Luís Felipe Cortoni, sócio- diretor do Ateliê de Pesquisa Organizacional, responsável por estudos que investigam a relação entre líderes e Geração Y.

Publicado em : http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/como-dar-feedback-profissionais-geracao-y-511604.shtml

terça-feira, agosto 02, 2011

Fundador da Localiza começou o negócio com seis fuscas financiados

Hoje, a empresa de Salim Mattar é a maior do país no setor, conta com mais de 50 mil carros, filiais em nove países e faturamento superior a 1 bilhão de reais

Hoje, a empresa de Salim Mattar é a maior do país no setor, conta com mais de 50 mil carros, filiais em nove países e faturamento superior a 1 bilhão de reais Aos 17 anos, o neto de libaneses Salim Mattar decidiu o que queria fazer na vida ao fazer uma entrega de cheque a um cliente da empresa onde trabalhava como office-boy. Com uma conta rápida a partir do valor do cheque, concluiu que uma locadora de carros podia render gordos negócios. Aos 23 anos, concretizou o plano e, a partir da primeira loja, com seis fuscas financiados, chegou hoje à maior empresa do setor no Brasil, a Localiza, com uma frota de mais de 50 mil carros. Leia abaixo entrevista sobre a história dele.
- Qual é a origem da sua família?
Meu avô era Libanês e veio para o Brasil foragido por desavenças e perseguição religiosas. Ele chegou no país aos 14 anos, na primeira dezena do século passado. Como todo jovem imigrante, veio sem dinheiro, sem recursos, sem falar o idioma, apenas com o endereço de um conhecido. Aqui ele se realizou e constituiu uma certa riqueza. Estou contando essa história do meu avô para dizer que a mobilidade social já existia desde aquela época. Um menino pobre do Líbano veio ao Brasil e, ao morrer, era um homem milionário. Meu avô foi para nós um exemplo. Era um homem muito dedicado aos negócios. Morava nos fundos do armazém de secos e molhados para assistir aos clientes na hora que fosse. Ele começou como mascate na rodoviária de São João Del Rey. Vendia pequenas bugigangas como espelho, pente, cortador de unha, canivete, caneta, tudo numa mala sobre um cavalete. Foi assim que ele começou a vida e foi conseguindo acumular o mínimo de capital. Mudou-se para uma cidade melhor e abriu um pequeno armazém, mudou para outra cidade e abriu outro armazém.
- Quando ele veio, chegou a que cidade?
São João del Rey. Depois ele foi para São Tiago, viu oportunidades na cidade de Morro do Ferro, depois na cidade de Passatempo. Ficou nessa região com armazém de secos e molhados. Antes de falecer ele tinha casado e quando faleceu tinha acumulado um patrimônio formado por fazendas, casas de aluguel, armazéns, postos de gasolina, linha de ônibus. Ele morreu um homem muito rico. Ele abraçou esse país como se fosse sua terra natal. Tanto é que não permitiu que os filhos falassem árabe. Ele dizia: nós adotamos essa terra como nossa terra natal, não vamos voltar, aqui é nossa pátria, aqui finquei minhas raízes, aqui vamos ficar. Ele tinha pavor de algum filho falar árabe e voltar para lá. Ele não queria, porque a imagem dele era uma imagem de perseguição religiosa, de guerras. Era um país complicado, ele veio para o Brasil com o passaporte da Turquia porque naquela época não existia o Líbano como país. Todos os libaneses vieram com passaporte da Turquia e por isso eram chamados de turcos. Só para lembrar: os libaneses não são árabes, eles são fenícios. Os turcos, do que meu avô era taxado, eram aqueles homens bárbaros, que não eram uma cultura fina. Era uma coisa pejorativa. Temos dentro de casa um exemplo com muita força de vontade, de trabalho, determinação. Uma pessoa incansável, que gozava de uma boa saúde, inteligência mínima e que tinha prazer de servir e atender clientes.
- Onde o senhor nasceu?
Nasci em Oliveira, uma cidade na zona oeste de Minas Gerais. Lá meu pai tinha um pequeno negócio.
- O seu pai teve uma infância tranquila?
Sim. Teve uma educação muito rígida e quando se casou mudou-se para outra cidade, como era costume na época. Os laços familiares diminuíram, naquela época não era tão fácil ir de uma cidade para outra como hoje. Meu pai se casou, mudou-se para Oliveira, tinha um pequeno armazém. Sou do meio de uma família de nove filhos. Meu pai faleceu muito cedo num acidente na minha cidade natal num clube náutico. Ele, dois primos e uma prima sofreram um acidente e faleceram.
- Quantos anos o senhor tia?
Eu tinha 13 anos de idade. Eu diria que o exemplo do meu avô e a morte precoce de meu pai, que morreu aos 47 anos, marcaram a minha vida. Aos 13 anos de idade eu só tinha irmãs mais velhas e me transformei num arrimo de família. Aquilo para mim foi uma coisa que me amadureceu muito rápido e melhorou minha vida em termos de perspectiva porque eu já agia como um indivíduo adulto apesar da idade tenra. Eu trabalhava no pequeno armazém do meu pai, lutando com uma certa dificuldade. Apesar da falta de luxo, a vida no interior não deixava de ter uma certa dificuldade.
- A sua mãe não trabalhava?
Nunca trabalhou. Era uma pessoa dedicada à família, ao lar e aos filhos.
- Quando o seu pai morreu o senhor assumiu os negócios.
Isso. Eu tinha duas irmãs que estudavam em Belo Horizonte, Oliveira era uma cidade pequena e não tinha recursos e lugares para empregar e nem universidade.
- Quantos habitantes tem Oliveira?
Hoje tem 35 000. Naquela época uns 20 000. Aos 17 anos eu achei que não seria mais tempo de continuar na minha terra natal pelas perspectivas que eu queria na minha vida. Queria fazer faculdade boa, buscar oportunidades de negócios. Numa cidade do interior eu não teria as chances que talvez uma cidade grande me proporcionasse. Aos 17 anos eu mudei para Belo Horizonte, onde morava numa pensão. Dividia um quarto com um amigo. Era office-boy de uma companhia de engenharia, que seria o meu primeiro emprego. Isso foi em 1967.
- Qual era o nome da empresa?
Chama-se Construtora Euller e Barbosa Ltda. Ela não existe mais, os sócios se separaram e a empresa teve uma cisão. Eu era office boy: buscava sanduíche, pagava título no cartório, ia ao banco. Esses serviços de rua. Esse foi o meu primeiro emprego.
- Lembra o salário?
O salário mínimo era 84 moedas e eu ganhava 100 moedas. Não lembro qual era a moeda da época. Era 1,2 salário mínimo. Na minha primeira semana de trabalho, eu tinha um contador ao qual eu me subordinava. Muito preocupado comigo (tinha a ilusão de que menino do interior era mais bobo), me mandou pagar uma conta. Ele disse: você vai conferir a nota, pede para bater o carimbo, datar e assinar. Uma vez feito isso você entrega o cheque. E pediu que eu repetisse o procedimento e me mandou fazer o pagamento. Andei alguns quarteirões e chego num estabelecimento comercial para pagar a conta. Disse que tinha ido pagar uma conta do contador do Barbosa e o senhor procurou a nota num bloco, destacou a nota e eu pedi que ele carimbasse, assinasse e datasse. Ele já fazia aquilo automaticamente, pegou o carimbo que ele sabia de cor qual era, pegou uma almofadinha vermelha e bateu, fazendo aquele barulho: pá, pá. Guardou, datou, assinou. Peguei o cheque que estava apertadinho na minha mão e entreguei para ele. Naquele momento aconteceu um fato que preciso voltar no tempo para te contar uma história.
- Qual é essa história?
Eu queria ser pianista. Aos seis anos eu tinha um colega que estudava piano. Achava aquilo bonito. Na verdade, eu não queria ser pianista, queria aprender a tocar piano. Toda vez que meu colega ia à aula de piano ele me ligava e a gente ia junto. Num sábado, dia do pai assistir a família, cada um contava quais eram seus problemas, um queria sapato, outro dinheiro, um queria contar que o irmão tinha batido nele. Pela ordem de tamanho, chegou a minha vez e ele, que me chamava de Zé, perguntou o que eu queria. Todo mundo queria alguma coisa. Ninguém chegava lá e dizia que não queria nada, só dar um beijo nele. Todo mundo queria alguma coisa. Eu falei que queria estudar piano com a dona Juju. Quando falei isso senti que tinha feito uma besteira. Ele me fitou assim, o olho dele ficou vermelho, apertou o meu braço. Senti que ele ficou com raiva e eu quis sair. Ele perguntou: quer dizer que você quer estudar piano? Você quer aprender a tocar piano? Disse que não queria mais. Ele chamou todos os irmãos para chegar mais perto e perguntou se eu sabia quem tinham sido Mozart, Bethoven. Com o dedo em riste. E eu não conhecia. Ele falou: eles eram os maiores pianistas do mundo e não há de ter nada igual. Não é você nem nenhum de vocês que vai ser tão bom quanto eles. E deixa eu falar como eles viviam: viviam pobres, famintos, esfarrapados, tocavam para os outros por um prato de comida. Para poder fazer figura, ele disse que os pianistas dormiam de favor num quartinho de empregada como tinha em casa. Eu decidi ali que não queria mais ser pianista, que aquilo não dava dinheiro. Meu pai pediu que eu tirasse aquela idéia da minha cabeça e pediu que eu abrisse um negócio. Ele falou: você vai crescer, abrir um negócio, ganhar dinheiro, comprar uma casa, constituir família e comprar a maior radiola que tiver e comprar todos os discos de pianistas. Na hora que saí do colo dele ele me deu um tapa com força, ele estava com raiva. Lembro da cena com detalhes, do cabelo molhado do meu pai, da água descendo no rosto dele.
- E depois, como ficaram as coisas?
A vida inteira ele falava: Zé, o que você vai ser quando crescer? E eu respondia: vou abrir um comércio para mim. Estava jogando futebol na rua e ele me chamava da janela: Zé, o que você vai fazer quando crescer? Vou abrir um comércio para mim. Chegava de viagem de noite e sussurrava no meu ouvido: o que você vai ser quando crescer? Vou abrir um comércio para mim. Durante o almoço, ele só olhava para mim. Eu levantava a cabeça e respondia balbuciando. Isso aconteceu durante anos. Ele tinha uma verdadeira aversão a que eu não abrisse um comércio para mim. Eu tinha o nome dele. Dos seis aos 13 anos ele deve ter me perguntado umas 30, 40 000 vezes: o que você vai fazer quando crescer? Voltando para Belo Horizonte, paguei a conta e fui ler a nota. Num bilionésimo de segundo eu fiz uma conta. Estava escrito ali: número de diária de Volkswagen tanto. Fiz uma regra de três se um dia custa x, 365 dias são 365x. Em voz alta, balbuciei na frente do dono da locadora: vou abrir um negócio desse para mim. Falei aquilo instintivamente porque seria mal-educado da minha parte falar aquilo. Eu jamais faria aquilo, que fluiu de mim. Ele perguntou: o que foi que você disse? Eu respondi que o valor do recibo estava correto. Não esqueci mais aquele negócio, eu tinha 17 anos de idade. A loja ficava numa avenida e, aos sábados, sentava num banco para ver os clientes chegar e sair. Aquilo era prazeroso para mim. O dia de maior satisfação para mim era quando eu tinha que ir lá pagar a locadora. Fazia de tudo para ficar um pouco mais de tempo lá. Gostava daquele ambiente, das pessoas chegando. Para mim era alucinante.
- Como chamava a locadora?
Volks Car. Ficava numa esquina da avenida Alves Cabral, uma região central de Belo Horizonte. Quando decidi abrir uma locadora abri na outra contra-esquina. Todas as agências de Belo Horizonte nessa mesma região. Continuei trabalhando até que aos 23 anos decidi abrir uma locadora de carros.
- Mas o senhor ficou dos 17 aos 23 trabalhando como office boy?
Não. Fui office boy e logo depois fui promovido. Aos 21 anos fui transferido para uma outra empresa do grupo. Apesar da pouca idade, era gerente dessa mineradora e tinha 240 pessoas subordinadas a mim. Era gerente geral, fazia compras, folha de pagamento. Tomava conta da empresa.
- O senhor estudou?
Fazia faculdade de administração de empresas na Fumec em Belo Horizonte à noite.
- O senhor trabalhava para pagar a faculdade?
Sim. Mas eu estava bem, subi muito rapidamente no meu emprego. Com dois anos trouxe a minha família para Belo Horizonte. Aluguei um apartamento, todos ficavam lá. Eu tinha uma condição financeira boa, era muito bem remunerado. Cedo eu tive uma condição financeira boa. Aos 21 anos de idade ser gerente de uma companhia com 240 funcionários. Eu era o único gerente, não tinha ninguém acima de mim. Galguei muito rápido meu crescimento nessa companhia.
- O senhor levou a família toda para Belo Horizonte?
Sim. Alguns irmãos já estavam encaminhados. Um morava em Juiz de Fora, outro em Belo Horizonte. Uma outra era casada. Então, eu trouxe duas irmãs solteiras, dois irmãos e a minha mãe.
- E o senhor bancava a casa toda?
Era meio dividido, uma irmã trabalhava. Então um pagava a conta de luz, outro o condomínio. A gente rateava a conta, mas eu assumia o maior compromisso porque era eu que ganhava mais naquele grupo de pessoas.
- Como era o apartamento?
Era um apartamento simples no bairro Anchieta. Tinha dois quartos, era suficiente para a família.
- O que te fascinava tanto numa locadora?
Tudo. O carro, o cliente chegar, sair. Voltar, abrir o capô para mostrar o pneu estepe. O dono e o cliente davam uma volta no carro para checar. Estava enamorado com a locadora. Aos 23 anos de idade decidi abrir o meu negócio.
- Qual era o nome da mineradora?
EIMCAL. Empresa Industrial Mineradora Calcária. Era uma fornecedora de calcário. Mas recebi uma proposta para ir para uma rede de supermercados, chamada Epa. Era a maior rede de supermercados de Minas Gerais. Ainda existe em Belo Horizonte. Recebi um convite, tinha um colega de escola que era um dos proprietários, era o irmão caçula. Ele gostava muito de mim, do meu trabalho. Sabia o que eu fazia na mineradora e me convidou para ser gerente dessa rede de supermercados. Eu tinha 22 anos. Fiquei dois anos nessa rede, era gerente de logística e distribuição. Abastecia todas as 70 lojas na grande Belo Horizonte. Era uma rede de grandes mercearias. Trabalhava nessa rede, mas não saía da minha cabeça a idéia de abrir um negócio para mim. Depois de dois anos irriquieto, insatisfeito porque eu queria abrir um comércio, aquilo estava impregnado dentro de mim. Quando vi aquele recibo eu estava condicionado.
- O senhor era bom no colégio?
Sempre. Era muito curioso. Na universidade, eu me fascinava com as matérias de Direito Comercial, de Marketing. Eu sabia que tinha escolhido o curso certo. Aos 23 anos de idade eu abri a Localiza.
- O primeiro nome da empresa foi Localiza?
Isso. A gente pensava muito grande, embora tivéssemos apenas seis carros comprados a crédito.
- A gente quem?
Eu e meu sócio, o Antônio Claudio. Ele era meu fornecedor na empresa de mineração, tinha uma empresa de transportes. Quando fui para a rede de supermercados Epa, fiz com que ele fosse o meu fornecedor lá também. E o chamei para gerenciar o departamento de transporte da rede. Ele era o meu gerente de transporte do Epa. Foi uma empatia. Quando resolvi abrir o negócio eu perguntei se ele queria ir comigo. Abrimos a Localiza em maio de 1973 sem dinheiro, sem nada. Só com a coragem, um sonho grande e vontade de trabalhar. Abrimos com seis Fuscas usados e comprados a crédito.
- Mas o senhor não estava bem de vida nessa época?
Eu tinha um bom salário, mas era consumido no padrão de vida da minha família. Três irmãos faziam universidade, eu liberava meus irmãos de assumir os compromissos da casa. Mas era um executivo apenas bem remunerado. Era um bom salário, mas não era 20 000 reais hoje. Era uns 4, 5 000 reais. Para quem tinha 22 anos estava bom demais.
- E já tinha um patrimônio?
Nada. Morava de aluguel. Aos 23 anos abrimos a Localiza.
- O que é a Localiza hoje?
É uma empresa presente em nove países na América do Sul, mais de 350 agências. Temos mais de 50 000 carros, é uma das maiores empresas de aluguel de carro do mundo. Estamos entre as sete maiores do mundo.
- Quanto fatura a empresa?
Só posso falar sobre passado. Te dou esse número com precisão mais tarde. A Localiza hoje é um modelo de empresa de aluguel bem gerenciada, bem administrada. A Localiza tem um elevado nível de qualidade de serviços, que é imbatível. Isso vem dos meus primórdios, meu pai tinha prazer em atender os clientes do armazém. Isso ficou impregnado em mim. Isso continua até hoje. Atendemos da melhor forma possível todos os nosso clientes. Temos uma frota nova, substituímos os carros a cada 12 meses para sempre dar ao cliente um carro novo, seguro, confortável. Temos um sistema de tecnologia moderno. As transações são feitas online, de qualquer parte do mundo. Você pode alugar um carro em Porto Alegre e devolver em Belém. Temos a maior malha do país. A Localiza é maior do que a segunda, a terceira e a quarta somadas.
- Mas como a empresa cresceu tanto no começo?
Começamos em Belo Horizonte como uma pequena agência no centro da cidade. Logo depois abrimos uma agência no aeroporto. Em 1978 já éramos líderes de mercado em Minas Gerais. Achamos que deveríamos ir para fora. Durante o primeiro choque do petróleo a Localiza resolveu comprar uma locadora de Vitória, no Espírito Santo. Sempre houve uma grande ligação de Minas com o Espírito Santo, Belo Horizonte com Vitória. Muitas empresas mineiras, como a Vale do Rio Doce e a Samarco tinham negócio em Vitória. Compramos uma locadora de Vitória e aprendemos a administrar uma filial à distância.
- Foi a primeira filial?
Isso. Com o sucesso do modelo, compramos dez outras cidades. Compramos em Curitiba, São Paulo, Salvador, Aracaju, São Luís do Maranhão, Recife, Campo Grande. Primeiro, fomos líderes de mercado em Belo Horizonte. Depois da liderança a primeira estratégia foi de aquisições. Compramos 11 no Brasil porque era um processo mais rápido. Depois disso começamos a expansão orgânica, começamos a abrir nós mesmos as nossas agências. Quando veio a crise da dívida externa em 1983, com capital escasso e caro, começamos a estratégia de franchising. Franqueamos o interior do Brasil e deu certo. Em 1992, com o PIB negativo e Itamar Franco no poder e o Brasil numa situação difícil, decidimos iniciar o nosso projeto de internacionalização. Começamos na Argentina em 1993 e hoje estamos em todo o continente, menos na Venezuela. Nosso objetivo é cobrir toda a América Latina. Até 2009 estará consolidada a rede na região. Temos 350 agências. Nenhuma outra rede chega a um terço disso.
- Quantos funcionários?
3 200
- E a receita de 2006?
Um bilhão, cento e quarenta e cinco mil reais.
- O senhor tem planos de levar a Localiza para outros continentes?
Não. Ainda tem muito mercado no Brasil. Temos mais a ganhar consolidando a nossa marca aqui. Queremos dominar mais esse mercado. Hoje não faz sentido ir para a Europa e para os Estados Unidos. A América Latina ainda tem muito o que crescer. No futuro vai ser um continente sem fronteiras, como o Nafta, a Comunidade Européia. Os países têm a inflação sob controle, os fundamentos da economia sob controle. Com todos os problemas que temos na América Latina, isso vai ter que dar certo alguma hora. A empresa tem que estar preparada para quando o continente entrar numa fase de crescimento contínuo.
- Quando o senhor chegou a Belo Horizonte, o senhor achou que teria um crescimento tão grande na vida?
Não. Eu sabia que ia abrir um negócio, mas não sabia o quê. Eu sabia que aquilo era passageiro, que estava naquela empresa de passagem. Eu era irriquieto e não sabia o que queria abrir. Mas na hora em que cheguei aos 17 anos de idade eu decidi a minha vida. Foi uma questão de timing. Não fiz pesquisa de mercado, nada. Fiz uma conta e disse que queria abrir um negócio como aquele para mim. É até perigoso algum jovem ler isso e dizer que vai abrir um negócio dessa forma. É claro que para isso requer uma pesquisa, um conhecimento prévio. Eu não sabia nada de aluguel de carro, fiquei até surpreso. Foi uma coisa absolutamente intuitiva.
- A que o senhor atribui essa virada?
Sou incorrigivelmente otimista. Em qualquer situação. Sou otimista por natureza. Não é só o otimismo. Sou muito determinado, obstinado. Trabalho muito duro. No início da Localiza, eu fazia como o meu avô, que morava no fundo da loja para atender os clientes que às vezes batiam na porta fora de hora. Quando abrimos a empresa, a gente já trabalhava 24 horas. Imagine uma locadora 24 horas há 33 anos. Hoje Belo Horizonte não tem nenhuma locadora 24 horas, nem a Localiza. Naquela época a gente precisava de cliente, cada semana um de nós dormia no escritório.
- Tinha um quartinho nos fundos?
Não, tinha um sofá na sala. Era ali que a gente dormia. Às vezes tinha cliente que fazia reserva para as cinco horas da manhã. Outros devolviam o carro meia-noite. Cada semana um ficava de plantão. A gente se barbeava lá, tomava banho lá, almoçava lá. Na hora do almoço ia para uma outra sala, comia alguma coisa e continuava. Era eu que lavava os carros junto com o meu sócio. O cliente devolvia o carro, a gente recebia o carro. Quando o cliente saía a gente lavava o carro e depois colocava a gravata de novo para atender cliente. Quantas vezes fui motorista da Localiza. Às vezes algum cliente pedia carro com motorista e eu ia lá. Como eles não sabiam que o motorista era o dono, eles muitas vezes davam até gorjeta. Uma vez fui levar um engenheiro até Caeté, que decidiu parar num restaurante para almoçar. Ele disse para eu sentar numa mesa separada e comer. Chegou um prato para mim e almocei normalmente. Eu era o motorista dele, ele achava aquilo completamente natural. Lavar carros, ser motorista. Eu fazia de tudo. É normal em qualquer empresa, todo mundo que tem empresa pequena sabe que isso é normal. Todos os empreendedores são iguais: fazem de tudo, varrem a loja. Eu não era diferente dos outros. Fui um obstinado, passei por momentos difíceis. A empresa esteve numa situação difícil em 1976, 77, tinha poucas chances de continuar no mercado. Os dois sócios capitalista viram a situação nebulosa e pediram para sair da companhia. No momento que mais precisava deles, eu perdi o aval e não conseguia recursos, não conseguia dinheiro. Foi por obstinação. Os relatórios diziam que a empresa não tinha chance de sobreviver. Os números mostravam que o negócio era inviável no papel. Hoje a empresa tem elevada reputação no mercado financeiro brasileiro, junto aos nossos clientes e na comunidade onde vivemos por causa dos nossos elevados padrões éticos. Desde 1990 montamos um código de ética. A Localiza nunca foi fornecedora do governo, nunca vendeu para o governo. Hoje é mais tranquilo porque o processo é mais transparente. Houve períodos que era complicado. Não fazemos certos negócios que nossos concorrentes fazem. Aos 16 anos eu fazia um curso científico, trabalhava à tarde e à noite fazia um curso técnico. Tive o prazer de o meu professor nos ensinar e dar como leitura o livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith. Aos 16 anos de idade comecei a entender o que era mercado. Até hoje sou discípulo de Adam Smith, da escola liberal. Isso me ajudou muito. Ao entender o que era mercado livre, concorrência, competência... Nunca tivemos financiamento de governo, de BNDES, benefício de imposto. Nunca tivemos nada.
- O senhor estudou num colégio estadual?
Sim. Hoje temos três consultorias internas ajudando a nos preparar para um novo ambiente competitivo, de um país que poderá crescer a taxas de 4, 5% ao ano por alguns anos. Não vemos isso desde os anos 70. Se isso acontece, a Localiza vai ter saltos de crescimento. Temos que deixar a empresa preparada como um carro de Fórmula 1, que está preparado para o dia da corrida. É isso que fazemos com a Localiza. Como a nossa indústria é uma indústria nova, temos taxas de crescimento superiores ao PIB. A nossa média tem sido de 5,7 vezes o PIB. Se o PIB vai crescer 4, 5%, você imagina o crescimento que a gente tem pela frente. Dobramos a companhia a cada três, quatro anos. Esse é o grande desafio. Fomos a primeira empresa no Brasil a abrir ação com 10 anos de balanço em US Gap.
- O senhor é casado?
Sou casado duas vezes. A primeira foi aos 25 anos, fiquei 10 anos casado e não tive filho. Depois me casei e tenho três filhas de 18, 16 e 15.
- Eles trabalham com o senhor?
Não. Lá na empresa, por elevados níveis de governança, os nossos filhos não podem trabalhar na companhia. Ela é absolutamente profissional. As minhas filhas estão preparadas para fazer aquilo que elas se sentirem confortáveis a fazer.
- Elas já sabem o que fazer?
A mais velha faz business administration nos Estados Unidos. As duas mais novas ainda estão no colégio.
- O senhor acredita que teria um crescimento como esse num país que não o Brasil?
É difícil falar o se, porque o se é uma conjunção que nos permite falar o que quisermos. Acho que a oportunidade que tivemos no Brasil é do tamanho do mercado em que nos inserimos. A empresa começou com seis Fuscas usados e tem 50 000 carros porque ela está num país que cresceu no governo militar nos anos 70, nos anos 80 tivemos Figueiredo e Sarnei. Tivemos um indivíduo chamado Funaro como Ministro da Fazenda que declarou a moratória. Tivemos um período de Collor cassado. Entrou o Itamar Franco. Tivemos um período de Fernando Henrique Cardoso, uma administração mais moderna, e depois entrou um operário para administrar o Brasil. A história dele você conhece. Nosso país foi um país conturbado. A Localiza é do tamanho que o Brasil permitiu que ela fosse. Vamos mudar de dimensão. A Localiza existe há 33 anos. Tem uma locadora nos Estados Unidos que tem 50 anos. Ela tem 1,1 milhão de carros. O mercado onde eles se criaram tem pessoas competentes, boas, usaram boas estratégias, souberam trabalhar o mercado, evitar a concorrência. Por que não temos 1,1 milhão de carros? Porque é impossível. Lá uma locadora tem isso. Aqui não é possível. A Localiza é maior do que a segunda, terceira e quarta locadoras somadas.
- Mas e pessoalmente? O senhor acredita que teria deixado de ser office boy para ser dono da maior locadora do país?
Sim. Oportunidade existe em todo lugar. O cara não sai de uma garagem da Califórnia e se transforma no homem mais rico do mundo? O Slim, que hoje é o homem mais rico do mundo, não sai de uma pequena corretora para ser o homem mais rico do mundo? Essa locadora americana foi criada por um vendedor de Cadillac, um vendedor de concessionária. Ele montou a Enterprise. Oportunidades existem em qualquer parte do mundo. Elas existiram e continuam existindo. No mercado brasileiro, um punhado de jovens criaram negócios e estão crescendo. Amanhã elas serão grandes empresas. Algumas são da área da internet. O mercado muda demais. Grandes redes desapareceram. Veja o caso da Sears, por exemplo. O mundo dos negócios muda. Oportunidade existe em qualquer parte. Não importa se a pessoa abre uma pequena sorveteria e tem sucesso. Porque sucesso não é tamanho, mas ligado a realização. Às vezes ter a melhor padaria da região é um sucesso. Em todos lugares do mundo existem oportunidades. Vide o que tem de novos milionários e bilionários na China e na Rússia. Aqui na Localiza, estamos no meio de uma trajetória onde nós construímos uma grande base de um negócio. A partir dela, uma nova Localiza se inicia. Aquela fase difícil, de locadora pequena, acabou. Hoje é uma rede em consolidação na América Latina.

Publicado em :http://exame.abril.com.br/negocios/empresas/noticias/m0140221

segunda-feira, agosto 01, 2011

L-Í-D-E-R BAMBU DE AÇO

"Existe uma ordem no universo. No meio da morte, a vida continua; no meio da mentira, a verdade continua; no meio da injustiça, a justiça continua; e em toda a escuridão, há luz."
Mahatma Gandhi.

Seja inteligente, seja um LÍDER bambu de aço, e para ser é essencial ter duas atitudes bases. CORAGEM E FLEXIBILIDADE para vivermos neste ritmo veloz e competitivo.

Coragem (do latim coraticum) é a habilidade de confrontar o medo, a dor, o perigo, a incerteza ou intimidação. O homem sem temeridade motiva-se a ir mais além. Enfrenta os desafios com confiança e não se preocupa com o pior. O medo pode ser constante, mas o impulso o leva adiante. Coragem é a confiança que o homem tem em momentos de temor ou situações difíceis, é o que faz viver lutando e enfrentando os problemas e as barreiras que colocam medo, é a força positiva para combater momentos tenebrosos da vida. A palavra coragem se resume em um ato considerado uma ação.
Flexibilidade, em comportamento, é a capacidade de mudar uma determinada atitude ou forma de pensar adaptando-se a determinadas circunstâncias, sem necessariamente representar uma mudança de opinião ou convicções mais profundas, de forma geral. No Brasil a flexibilidade geralmente é representada pela expressão popular "jogo de cintura". Na área corporativa, a flexibilidade representa a capacidade de mudar rapidamente de estratégia para aproveitar oportunidades momentâneas adaptando-se a situação de mercado.
Você terá quais vantagens em ser mais corajoso?

Quando você será mais corajoso? E por quê?

Qual será o prejuízo se você não for flexível?

O que te impede de ser flexível?

Um membro de um determinado grupo ao qual prestava serviços regularmente, sem nenhum aviso, deixou de participar de suas atividades.
Após algumas semanas, o líder daquele grupo decidiu visitá-lo. Era uma noite muito fria. O líder encontrou o homem em casa sozinho, sentado diante da lareira, onde ardia um fogo brilhante e acolhedor.
Adivinhando a razão da visita, o homem deu as boas-vindas ao líder, conduziu-o a uma grande cadeira perto da lareira e ficou quieto, esperando.
O líder acomodou-se confortavelmente no local indicado, mas não disse nada. No silêncio sério que se formara, apenas contemplava a dança das chamas em torno das achas de lenha, que ardiam.
Ao cabo de alguns minutos, o líder examinou as brasas que se formaram. Cuidadosamente selecionou uma delas, a mais incandescente de todas, empurrando-a para o lado. Voltou então a sentar-se, permanecendo silencioso e imóvel.
O anfitrião prestava atenção a tudo, fascinado e quieto. Aos poucos a chama da brasa solitária diminuía, até que houve um brilho momentâneo e seu fogo apagou-se de vez. Em pouco tempo o que antes era uma festa de calor e luz, agora não passava de um negro, frio e morto pedaço de carvão recoberto de uma espessa camada de fuligem acinzentada.
Nenhuma palavra tinha sido dita desde o protocolar cumprimento inicial entre os dois amigos. O líder, antes de se preparar para sair, manipulou novamente o carvão frio e inútil, colocando-o de volta no meio do fogo. Quase que imediatamente ele tornou a incandescer, alimentado pela luz e calor dos carvões ardentes em torno dele.

Quando o líder alcançou a porta para partir, seu anfitrião disse:

- Obrigado. Por sua visita e pelo belíssimo sermão. Estou voltando ao convívio do grupo. Deus te abençoe!

Viva inteligentemente, seja um bambu de aço, tenha esta atitude nobre agora.

Assim superará desafios, será mais confiável, terá melhores resultados e se sentirá mais feliz.

BAMBU DE AÇO é igual a RESULTADOS DESEJADOS agora e sempre.

Na vida só buscamos uma coisa, e o que é? RESULTADOS DESEJADOS e como ter? Sendo um bambu de aço nobre e exclusivo.

"Sempre existe um meio de inverter uma situação, se nos comprometemos com coragem e flexibilidade."

Que você continue na melhoria constante e incessante.

FERNANDO VIEL Presidente da Viel Treinamentos - Academia Mundial de PNL e COACHING.